quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O Teatro no Ocidente


A maior parte das teorias aponta para o ritual nas origens do teatro ocidental.

A Poética (330 a.C.), de Aristóteles, primeira obra crítica sobre a literatura e o teatro, afirma que a tragédia grega nasceu a partir do ditirambo, hinos corais em honra ao deus Dionísio. Segundo a lenda, Téspis, poeta do séc. VI a.C., criou a tragédia ao fazer o papel de personagem principal.

A tragédia grega floresceu no séc. V a.C. com Ésquilo, Sófocles e Eurípides. As obras são grandiosas, em verso e estruturadas em cenas (episódios) com três ou menos personagens e um coro que canta em odes.

A maior parte das histórias se baseia em mitos ou relatos antigos e o seu objetivo é mostrar o caráter dos personagens, o papel da humanidade no mundo e as conseqüências das ações individuais.

As comédias mais antigas que se conhece são as de Aristófanes. Têm estrutura bem cuidada, inspirada nos antigos ritos de fertilidade. Sua comicidade consistia numa mistura de ataques satíricos a personalidades públicas, pilhérias escatológicas e paródias aparentemente sacrílegas dos deuses.

O misantropo é a única obra completa que se conserva de Menandro, o grande autor da nova comédia grega. A trama gira em torno de uma complicação com o amor, o dinheiro, problemas familia.

O teatro romano só apareceu no séc. III a.C. e seu período mais fecundo se iniciou no séc. II a.C., marcado pelas comédias de Plauto e Terêncio, que eram adaptações da nova comédia grega. As tragédias de Sêneca viriam a exercer grande influência na época do renascimento.

Em fins do séc. II a.C. a literatura dramática entrou em declínio, substituída por outras formas mais populares de diversão.

A nascente Igreja cristã atacou o teatro romano porque os atores e atrizes tinham fama de libertinos e os mímicos satirizavam os cristãos.

Com o fim do Império romano, o teatro clássico decaiu no Ocidente. A atividade teatral só ressurgiria cerca de 500 anos depois. Apenas os artistas populares, os jograis, sobreviveram.

Por ironia o teatro como drama litúrgico reapareceria na Europa graças à Igreja católica romana, que dele se serviu para ampliar sua influência.

No séc. X, os diferentes ritos eclesiásticos ofereciam possibilidades de representação dramática e a própria missa era, na realidade, um drama.

Com o tempo, o espetáculo foi assumindo um sentido secular.
Por volta do séc. XIV, as obras eram escritas em forma de coplas (estrofes em geral de quatro versos, destinadas a serem cantadas com música popular), de fácil memorização.

Apesar de seu conteúdo religioso, eram em grande parte consideradas como forma de divertimento. Daí surgiram peças folclóricas, farsas e dramas pastoris, que influenciaram o desenvolvimento dos autos no séc. XV.

A Reforma protestante pôs fim ao teatro religioso em meados do século XVI, surgindo em seu lugar um novo e dinâmico teatro profano. O renascimento esboçou uma tentativa de recriar o drama clássico.

Na Itália os primeiros exemplos de teatro renascentista datam do séc. XV. Eram obras com finalidade didática e concebidas para serem lidas.

Menção especial merece a peça La Celestina, do dramaturgo espanhol Fernando de Rojas, onde aparecem os elementos que caracterizarão o teatro espanhol do século de ouro.

Em fins do séc. XVI, as elaboradas exibições cênicas levaram à criação da ópera, que logo se popularizou, exigindo a construção de grandes teatros.

O teatro popular, baseado na improvisação, deu origem à commedia dell'arte, que teve seu apogeu entre 1550 e 1650.

O drama clássico evoluiu na França, nas obras de Corneille e Racine. Molière, por sua vez, é considerado o grande comediógrafo francês. Ver Comédie Française.

O teatro renascentista inglês partiu das formas populares e das exigências do público em geral.

Thomas Kyd e Christopher Marlowe permitiram o nascimento de um teatro dinâmico e épico, que culminaria no trabalho complexo e diversificado do maior gênio do teatro inglês, William Shakespeare.

O século de ouro espanhol designa uma dos períodos mais férteis da dramaturgia universal.

Seguindo a influência italianizante, introduzida na Espanha por Juan del Encina e Lope de Vega, caberia a este a responsabilidade e o mérito de haver então integrado em sua valiosa Arte Nova de Criação de Comédias (1609), as linhas mestras que regeriam o teatro de sua época, conhecido como 'Comédia Nova' espanhola.

Calderón de la Barca seria, por sua vez, o mestre dos autos sacramentais.

O teatro do séc. XVIII, em grande parte da Europa, era basicamente um teatro de atores, com as obras escritas já ao estilo de representação.

No entanto, produziu-se igualmente uma reação ao neoclassicismo e um gosto crescente pelo sentimental em dramaturgos como o alemão Ephraim Lessing e o francês Pierre de Marivaux.

Na Inglaterra, George Lill e Richard Steele escreveram peças sobre as classes média e baixa, com situações realistas, se bem que simplistas.

Na Espanha desenvolveu-se um tipo de teatro popular que ressaltava os aspectos castiços dos plebeus, com destaque para os madrilenhos.

Leandro Fernández de Moratín reagiria a esses extremos, fazendo em sua obra uma crítica da sociedade.

Ao longo do séc. XVIII tomaram corpo certas idéias filosóficas, que acabariam por reunir-se em princípios do séc. XIX no movimento romântico.

Muitas das idéias e práticas do romantismo estavam já configuradas no Sturm und Drang, liderado por Goethe e pelo dramaturgo Friedrich von Schiller.

As obras do dramaturgo francês René Charles Guilbert de Pixérécourt abriram caminho ao romantismo francês. Hernani (1830) de Victor Hugo é considerada a primeira peça romântica francesa.

O introdutor do romantismo na Espanha é Alarcón, Duque de Rivas, com sua obra Don Álvaro o la fuerza del sino, mas o expoente máximo é José Zorilla, autor de Don Juan Tenorio.

Em meados do séc. XIX o interesse pelos detalhes realistas, as motivações psicológicas e a preocupação com os problemas sociais provocaram o surgimento do naturalismo no teatro.

Na França, Émile Zola comparava o trabalho do autor teatral ao do médico, que tem que fazer aflorar a enfermidade para curá-la.

Ao mesmo tempo crescia o interesse pelo realismo das motivações psicológicas dos personagens.

As figuras mais relevantes deste estilo foram o dramaturgo norueguês Henrik Ibsen e o autor teatral sueco Augusto Strindberg, não raro considerados os fundadores do teatro moderno.

O autor irlandês George Bernard Shaw, por exemplo, demonstra clara influência de Ibsen.

O teatro russo começou a se desenvolver em fins do séc. XVIII. Suas figuras mais representativas, Alexander Ostrovsky e Nikolai Vassilievitch Gogol, eram de certo modo realistas, no que se refere ao estilo; mas o naturalismo viria a se impor em fins do séc. XIX, com as obras de Lev Tolstoi e Maksim Gorki.

Anton Tchekhov, embora seja mais precisamente um simbolista, tem aspectos realistas em suas peças e foi muitas vezes considerado um naturalista.

Konstantin Stanislawski, um diretor autodidata, fundou em 1898 o Teatro de Arte de Moscou e seu método de interpretação continua sendo até hoje a base de formação de atores.

Existiam ainda formas populares nos teatros de ruas e praças, com uma mistura de música, dança, números de circo e pequenas obras cômicas. O interesse pela fantasia e pelo espetáculo se alimentava da pantomima, da extravagância e do gênero burlesco.

O movimento simbolista francês adotou as idéias de Richard Wagner na década de 1880, realizando uma chamada à ‘desteatralização’ de todos os entraves tecnológicos e cênicos, substituindo-os pela espiritualidade, que deveria provir do texto e da interpretação.

As peças simbolistas do belga Maurice Maeterlinck e do francês Paul Claudel, bastante conhecidas entre o final do séc. XIX e meados do séc. XX, são pouco representadas atualmente.

A influência simbolista é também evidente nas obras dos dramaturgos norte-americanos Eugene O'Neill, Tennessee Williams e do inglês Harold Pinter, animador do ‘teatro do silêncio’, em que se dá importância decisiva à iluminação e à cenografia.

Em 1896 estréia Ubu Rei, de Alfred Jarry, obra desconcertante e provocadora, que serviria de modelo a futuros movimentos dramáticos de vanguarda e, posteriormente, ao teatro do absurdo. Paralelamente, Valle-Inclán revolucionaria a cena espanhola com a criação de seu ‘esperpento’.

O movimento expressionista teve seu apogeu nas primeiras décadas do séc. XX, principalmente na Alemanha. Explorava os aspectos mais violentos e grotescos da mente humana, criando um mundo de pesadelo no palco.

Do ponto de vista cênico, o expressionismo caracterizou-se pela distorção, o exagero e um uso sugestivo da luz e da sombra. Entre seus autores se destacam Georg Kaiser, Ernst Toller e, de certo modo, O'Neill.

Outros movimentos da primeira metade do séc. XX, como o futurismo, dadaísmo e o surrealismo, procuraram trazer ao teatro novas idéias artísticas e científicas.

O dramaturgo e poeta espanhol Federico García Lorca fundiria simbolismo, surrealismo, lirismo, realismo e formas populares em um teatro cujo eixo é a liberdade do autor ao se expressar.

O dramaturgo alemão Bertolt Brecht também se manifestou contra o teatro realista. Julgava que o teatro podia instruir e transformar a sociedade e para tal deveria forçosamente ser político.

O uso de um palco nu, em que fosse visível a colocação dos elementos técnicos e a iluminação, as cenas curtas, a justaposição de realidade e teatralidade, técnicas correntes em nossos dias, são, em grande parte, mérito de Brecht.

O teórico francês Antonin Artaud exerceu influência das mais significativas no panorama teatral após a II Guerra. Rejeitava o drama psicológico e procurava substituí-lo por uma experiência teatral religiosa, comunitária, convocando à criação de uma nova linguagem teatral, o chamado teatro da crueldade.

O gênero não-realista mais popular do século foi o teatro do absurdo, descendente das obras de Alfred Jarry, dos dadaístas, surrealistas e da influência das teorias existencialistas de Albert Camus e Jean-Paul Sartre.

Seus melhores exemplos são a peça de Ionesco O rinoceronte (1959) e a do escritor irlandês Samuel Beckett, Esperando Godot (1952).

As peças dos norte-americanos Arthur Miller e Tennessee Williams também usam recursos não-realistas.

Na Europa, o teatro não era tão comprometido com o realismo psicológico e sua precocupação central era com o jogo de idéias, que se evidencia nas obras do dramaturgo italiano Luigi Pirandello e nos autores franceses Jean Anouilh e Jean Giraudoux.

Muitos dramaturgos, como Sam Shepard, nos Estados Unidos, Peter Handke, na Áustria, e Tom Stoppard, na Inglaterra, criaram obras centradas na linguagem. Nos últimos trinta anos, as formas mais tradicionais de entretenimento foram absorvidas pela televisão.

Das formas mais populares, só o musical parece ter florescido, dando ênfase às canções, à coreografia e à comédia leve. A tendência à espetaculosidade se manteve ao longo da década de 1980, com musicais à moda de Andrew Lloyd Webber e produções como Cats (1982) e O fantasma da ópera (1988).

O teatro japonês é talvez o mais complexo do Oriente.
Seus dois gêneros mais conhecidos são o teatro nô e o kabuki. Nô, o teatro clássico japonês, é estilizado, uma síntese de dança-música-teatro. Tem estreita relação com o budismo zen.

Outros gêneros dramáticos são o bugaku, um sofisticado teatro dançado e um teatro de bonecos ou marionetes chamado bunraku.

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