quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

"Teatro de Arena, uma Estética de Resistência"

Izaías Almada escreveu o livro Teatro de Arena: uma Estética de Resistência.

São lembranças e opiniões de ex-integrantes do Teatro de Arena paulista e de pessoas a ele ligadas de alguma forma.

Izaías foi ator lá entre 64 e 69 e incluiu no livro entrevistas e reflexões no cotidiano do grupo.

O Arena surgiu a partir das atividades do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e da Escola de Arte Dramática (EAD), da Universidade de S. Paulo.

O crítico teatral Décio de Almeida Prado recorda o surgimento do Teatro de Arena, como era a cena cultural com o TBC e com a criação da EAD, onde foi professor do então aluno José Renato, um dos criadores do Arena.

Essa forma de teatro apresentou-se, no inicio, como uma maneira barata de encenar, já que com o palco em forma de arena não era preciso gastar com grandes cenários. Eram valorizados, nesse caso, os figurinos e a interpretação.

Com a encenação de “Eles não usam Black-tie” (58), a ideologia dos integrantes estabeleceram o hoje chamado teatro “revolucionário”.

A nova forma de teatro, voltada para a realidade do país, e a nova estética chamaram a atenção: personagens como empregadas domésticas e operários em greve antes não apareciam nos palcos. O Arena valorizou textos de conteúdo social de autores nacionais.

Vera Gertel, casada com Vianinha e ligada à Juventude Comunista, conta como era ser atriz, mulher e militante nessa sociedade.

As entrevistas mostram que o Arena não foi fruto de plano de uma pessoa. Se construiu e se modificou com o passar do tempo e acompanhou o cenário nacional e mundial. Atores e dramaturgos fizeram a criação.

“O Teatro de Arena atravessou 20 anos da história do Brasil e era natural que nesse período buscasse a cada momento orientar-se estética e politicamente de acordo com os ideais dos seus principais integrantes, homens e mulheres de esquerda, de origem pequeno-burguesa, alguns dos quais ligados ao Partido Comunista Brasileiro”, revela um trecho.

Augusto Boal cuidava da formação dos atores.
Ele idealizou os Seminários de Dramaturgia para uma ampla discussão do papel do teatro e do ator. Segundo Roberto Freire, Boal expunha conceitos e conhecimento sobre teatro, inspirado em curso de dramaturgia feito nos Estados Unidos com John Gassner.

O Arena foi críticado por seu modo de enxergar a realidade. Muitos, até hoje, acusam que foi um grupo fechado, limitado pelas próprias ideologias, que dividia o mundo entre “bons” e “maus”.

Histórias engraçadas ilustram o livro. O palco no formato de Arena dava intimidade com o público, que diversas vezes interferia com comentários ou invadindo a cena.

Era natural que o Arena desaparecesse durante a ditadura, mas não sem luta. O Arena deu vida aos musicais Zumbi e Tiradentes e ao show Opinião, no Rio de Janeiro. Montou espetáculos como O inspetor geral (Gogol), Arena canta Bahia e a Primeira Feira Paulista de Opinião.

Após 68, membros do Arena foram presos e torturados e mesmo assim os trabalhos continuaram. A Primeira Feira Paulista de Opinião, por exemplo, reuniu artistas de várias áreas para protestar contra a censura e a falta de liberdade de expressão.

Augusto Boal foi preso e torturado e as sequelas ficaram por toda a sua vida. Gianfrancesco Guarnieri diz que a censura mobilizou a classe teatral. Com o fim do Arena, os integrantes se dispersaram ou criaram outros grupos.

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