quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Teatro e Arte Dramática

As artes cênicas incluem tudo o que se refere à feitura da obra teatral: interpretação, figurinos e cenários, a produção.

O teatro desenvolveu-se ao longo da história em três níveis: como divertimento popular, de organização mínima; como importante atividade pública; e como arte para a elite.

Há pelo menos dois elementos fundamentais em uma representação - ator/atriz e público, e pode-se usar a mímica ou a palavra.

Uma representação pode ser valorizada com os figurinos, maquiagem, cenários, acessórios, iluminação, música e efeitos especiais.

Esses recursos podem servir para criar a ilusão de lugares, tempos e personagens diferentes, ou para sublinhar a própria visão da representação como algo diverso da experiência diária.

O Teatro no Ocidente


A maior parte das teorias aponta para o ritual nas origens do teatro ocidental.

A Poética (330 a.C.), de Aristóteles, primeira obra crítica sobre a literatura e o teatro, afirma que a tragédia grega nasceu a partir do ditirambo, hinos corais em honra ao deus Dionísio. Segundo a lenda, Téspis, poeta do séc. VI a.C., criou a tragédia ao fazer o papel de personagem principal.

A tragédia grega floresceu no séc. V a.C. com Ésquilo, Sófocles e Eurípides. As obras são grandiosas, em verso e estruturadas em cenas (episódios) com três ou menos personagens e um coro que canta em odes.

A maior parte das histórias se baseia em mitos ou relatos antigos e o seu objetivo é mostrar o caráter dos personagens, o papel da humanidade no mundo e as conseqüências das ações individuais.

As comédias mais antigas que se conhece são as de Aristófanes. Têm estrutura bem cuidada, inspirada nos antigos ritos de fertilidade. Sua comicidade consistia numa mistura de ataques satíricos a personalidades públicas, pilhérias escatológicas e paródias aparentemente sacrílegas dos deuses.

O misantropo é a única obra completa que se conserva de Menandro, o grande autor da nova comédia grega. A trama gira em torno de uma complicação com o amor, o dinheiro, problemas familia.

O teatro romano só apareceu no séc. III a.C. e seu período mais fecundo se iniciou no séc. II a.C., marcado pelas comédias de Plauto e Terêncio, que eram adaptações da nova comédia grega. As tragédias de Sêneca viriam a exercer grande influência na época do renascimento.

Em fins do séc. II a.C. a literatura dramática entrou em declínio, substituída por outras formas mais populares de diversão.

A nascente Igreja cristã atacou o teatro romano porque os atores e atrizes tinham fama de libertinos e os mímicos satirizavam os cristãos.

Com o fim do Império romano, o teatro clássico decaiu no Ocidente. A atividade teatral só ressurgiria cerca de 500 anos depois. Apenas os artistas populares, os jograis, sobreviveram.

Por ironia o teatro como drama litúrgico reapareceria na Europa graças à Igreja católica romana, que dele se serviu para ampliar sua influência.

No séc. X, os diferentes ritos eclesiásticos ofereciam possibilidades de representação dramática e a própria missa era, na realidade, um drama.

Com o tempo, o espetáculo foi assumindo um sentido secular.
Por volta do séc. XIV, as obras eram escritas em forma de coplas (estrofes em geral de quatro versos, destinadas a serem cantadas com música popular), de fácil memorização.

Apesar de seu conteúdo religioso, eram em grande parte consideradas como forma de divertimento. Daí surgiram peças folclóricas, farsas e dramas pastoris, que influenciaram o desenvolvimento dos autos no séc. XV.

A Reforma protestante pôs fim ao teatro religioso em meados do século XVI, surgindo em seu lugar um novo e dinâmico teatro profano. O renascimento esboçou uma tentativa de recriar o drama clássico.

Na Itália os primeiros exemplos de teatro renascentista datam do séc. XV. Eram obras com finalidade didática e concebidas para serem lidas.

Menção especial merece a peça La Celestina, do dramaturgo espanhol Fernando de Rojas, onde aparecem os elementos que caracterizarão o teatro espanhol do século de ouro.

Em fins do séc. XVI, as elaboradas exibições cênicas levaram à criação da ópera, que logo se popularizou, exigindo a construção de grandes teatros.

O teatro popular, baseado na improvisação, deu origem à commedia dell'arte, que teve seu apogeu entre 1550 e 1650.

O drama clássico evoluiu na França, nas obras de Corneille e Racine. Molière, por sua vez, é considerado o grande comediógrafo francês. Ver Comédie Française.

O teatro renascentista inglês partiu das formas populares e das exigências do público em geral.

Thomas Kyd e Christopher Marlowe permitiram o nascimento de um teatro dinâmico e épico, que culminaria no trabalho complexo e diversificado do maior gênio do teatro inglês, William Shakespeare.

O século de ouro espanhol designa uma dos períodos mais férteis da dramaturgia universal.

Seguindo a influência italianizante, introduzida na Espanha por Juan del Encina e Lope de Vega, caberia a este a responsabilidade e o mérito de haver então integrado em sua valiosa Arte Nova de Criação de Comédias (1609), as linhas mestras que regeriam o teatro de sua época, conhecido como 'Comédia Nova' espanhola.

Calderón de la Barca seria, por sua vez, o mestre dos autos sacramentais.

O teatro do séc. XVIII, em grande parte da Europa, era basicamente um teatro de atores, com as obras escritas já ao estilo de representação.

No entanto, produziu-se igualmente uma reação ao neoclassicismo e um gosto crescente pelo sentimental em dramaturgos como o alemão Ephraim Lessing e o francês Pierre de Marivaux.

Na Inglaterra, George Lill e Richard Steele escreveram peças sobre as classes média e baixa, com situações realistas, se bem que simplistas.

Na Espanha desenvolveu-se um tipo de teatro popular que ressaltava os aspectos castiços dos plebeus, com destaque para os madrilenhos.

Leandro Fernández de Moratín reagiria a esses extremos, fazendo em sua obra uma crítica da sociedade.

Ao longo do séc. XVIII tomaram corpo certas idéias filosóficas, que acabariam por reunir-se em princípios do séc. XIX no movimento romântico.

Muitas das idéias e práticas do romantismo estavam já configuradas no Sturm und Drang, liderado por Goethe e pelo dramaturgo Friedrich von Schiller.

As obras do dramaturgo francês René Charles Guilbert de Pixérécourt abriram caminho ao romantismo francês. Hernani (1830) de Victor Hugo é considerada a primeira peça romântica francesa.

O introdutor do romantismo na Espanha é Alarcón, Duque de Rivas, com sua obra Don Álvaro o la fuerza del sino, mas o expoente máximo é José Zorilla, autor de Don Juan Tenorio.

Em meados do séc. XIX o interesse pelos detalhes realistas, as motivações psicológicas e a preocupação com os problemas sociais provocaram o surgimento do naturalismo no teatro.

Na França, Émile Zola comparava o trabalho do autor teatral ao do médico, que tem que fazer aflorar a enfermidade para curá-la.

Ao mesmo tempo crescia o interesse pelo realismo das motivações psicológicas dos personagens.

As figuras mais relevantes deste estilo foram o dramaturgo norueguês Henrik Ibsen e o autor teatral sueco Augusto Strindberg, não raro considerados os fundadores do teatro moderno.

O autor irlandês George Bernard Shaw, por exemplo, demonstra clara influência de Ibsen.

O teatro russo começou a se desenvolver em fins do séc. XVIII. Suas figuras mais representativas, Alexander Ostrovsky e Nikolai Vassilievitch Gogol, eram de certo modo realistas, no que se refere ao estilo; mas o naturalismo viria a se impor em fins do séc. XIX, com as obras de Lev Tolstoi e Maksim Gorki.

Anton Tchekhov, embora seja mais precisamente um simbolista, tem aspectos realistas em suas peças e foi muitas vezes considerado um naturalista.

Konstantin Stanislawski, um diretor autodidata, fundou em 1898 o Teatro de Arte de Moscou e seu método de interpretação continua sendo até hoje a base de formação de atores.

Existiam ainda formas populares nos teatros de ruas e praças, com uma mistura de música, dança, números de circo e pequenas obras cômicas. O interesse pela fantasia e pelo espetáculo se alimentava da pantomima, da extravagância e do gênero burlesco.

O movimento simbolista francês adotou as idéias de Richard Wagner na década de 1880, realizando uma chamada à ‘desteatralização’ de todos os entraves tecnológicos e cênicos, substituindo-os pela espiritualidade, que deveria provir do texto e da interpretação.

As peças simbolistas do belga Maurice Maeterlinck e do francês Paul Claudel, bastante conhecidas entre o final do séc. XIX e meados do séc. XX, são pouco representadas atualmente.

A influência simbolista é também evidente nas obras dos dramaturgos norte-americanos Eugene O'Neill, Tennessee Williams e do inglês Harold Pinter, animador do ‘teatro do silêncio’, em que se dá importância decisiva à iluminação e à cenografia.

Em 1896 estréia Ubu Rei, de Alfred Jarry, obra desconcertante e provocadora, que serviria de modelo a futuros movimentos dramáticos de vanguarda e, posteriormente, ao teatro do absurdo. Paralelamente, Valle-Inclán revolucionaria a cena espanhola com a criação de seu ‘esperpento’.

O movimento expressionista teve seu apogeu nas primeiras décadas do séc. XX, principalmente na Alemanha. Explorava os aspectos mais violentos e grotescos da mente humana, criando um mundo de pesadelo no palco.

Do ponto de vista cênico, o expressionismo caracterizou-se pela distorção, o exagero e um uso sugestivo da luz e da sombra. Entre seus autores se destacam Georg Kaiser, Ernst Toller e, de certo modo, O'Neill.

Outros movimentos da primeira metade do séc. XX, como o futurismo, dadaísmo e o surrealismo, procuraram trazer ao teatro novas idéias artísticas e científicas.

O dramaturgo e poeta espanhol Federico García Lorca fundiria simbolismo, surrealismo, lirismo, realismo e formas populares em um teatro cujo eixo é a liberdade do autor ao se expressar.

O dramaturgo alemão Bertolt Brecht também se manifestou contra o teatro realista. Julgava que o teatro podia instruir e transformar a sociedade e para tal deveria forçosamente ser político.

O uso de um palco nu, em que fosse visível a colocação dos elementos técnicos e a iluminação, as cenas curtas, a justaposição de realidade e teatralidade, técnicas correntes em nossos dias, são, em grande parte, mérito de Brecht.

O teórico francês Antonin Artaud exerceu influência das mais significativas no panorama teatral após a II Guerra. Rejeitava o drama psicológico e procurava substituí-lo por uma experiência teatral religiosa, comunitária, convocando à criação de uma nova linguagem teatral, o chamado teatro da crueldade.

O gênero não-realista mais popular do século foi o teatro do absurdo, descendente das obras de Alfred Jarry, dos dadaístas, surrealistas e da influência das teorias existencialistas de Albert Camus e Jean-Paul Sartre.

Seus melhores exemplos são a peça de Ionesco O rinoceronte (1959) e a do escritor irlandês Samuel Beckett, Esperando Godot (1952).

As peças dos norte-americanos Arthur Miller e Tennessee Williams também usam recursos não-realistas.

Na Europa, o teatro não era tão comprometido com o realismo psicológico e sua precocupação central era com o jogo de idéias, que se evidencia nas obras do dramaturgo italiano Luigi Pirandello e nos autores franceses Jean Anouilh e Jean Giraudoux.

Muitos dramaturgos, como Sam Shepard, nos Estados Unidos, Peter Handke, na Áustria, e Tom Stoppard, na Inglaterra, criaram obras centradas na linguagem. Nos últimos trinta anos, as formas mais tradicionais de entretenimento foram absorvidas pela televisão.

Das formas mais populares, só o musical parece ter florescido, dando ênfase às canções, à coreografia e à comédia leve. A tendência à espetaculosidade se manteve ao longo da década de 1980, com musicais à moda de Andrew Lloyd Webber e produções como Cats (1982) e O fantasma da ópera (1988).

O teatro japonês é talvez o mais complexo do Oriente.
Seus dois gêneros mais conhecidos são o teatro nô e o kabuki. Nô, o teatro clássico japonês, é estilizado, uma síntese de dança-música-teatro. Tem estreita relação com o budismo zen.

Outros gêneros dramáticos são o bugaku, um sofisticado teatro dançado e um teatro de bonecos ou marionetes chamado bunraku.

Tipos de Palco Teatral

Vários tipos de palco foram criados ao longo do tempo para satisfazer os diferentes estilos teatrais.

Os três principais exemplos de palcos são:

- o do teatro de proscênio, a versão mais comum, que situa o palco em um extremo da sala e consiste numa abertura na parede que o separa do público

- o do teatro arena: o teatro circular no qual o público rodeia o palco por completo

- e o palco aberto, chamado também plataforma ou estrado.

Este palco aberto avança em direção à platéia, ficando as poltronas distribuídas na frente e nos lados da plataforma.

Produção Teatral

Define os diferentes meios pelos quais se organiza e se apresenta uma encenação de teatro.
O termo teatro se aplica a produções dramáticas e musicais, mas as artes cênicas incluem também a ópera, a dança, a mímica.

O texto-base ou roteiro, cenários, figurinos, trilha sonora, marcações ou coreografia, determinam a linguagem e a ação dos intérpretes.

O teatro existe sob formas diversas: a maior parte do teatro africano, oriental, pré-renascentista e de vanguarda não esconde a teatralidade - pelo contrário, a enfatiza.

Desde o Renascimento, o teatro ocidental apoiou-se basicamente na ilusão, até que surgiu a reação proposta por Bertolt Brecht contra essa tendência que ele qualificou de “culinária” e acrítica.

O teatro pode também ser classificado de acordo com as formas de produção e finalidade.

O teatro comercial atrai o chamado grande público e é produzido com intenção de obter lucros. Baseia-se no entretenimento e nele os valores artísticos e literários ficam em segundo plano.

O teatro de arte, que inclui o experimental, tem por objetivo apresentar obras de arte mais sérias, de maior peso no âmbito da literatura dramática, que criem novos modos de percepção da realidade.

Espaço Teatral

O espaço cênico representa o homem na cena do mundo e seu desenho e arquitetura variam de acordo com as mudanças históricas.

O teatro grego de rituais religiosos era um espaço natural, circular, aberto à natureza em torno.

A platéia era colocada em semi-círculo em redor da orquestra, ou espaço central, cercando-o por três lados.

No séc. IV a.C. chegava a atingir de 10 mil a 17 mil espectadores.

A skene, ou área de representação atrás da orquestra era o local de guarda de material e troca de roupa dos atores, que entravam em cena por três lados. Uma plataforma mais elevada, o proscênio, veio a ser acrescentada à frente da cena, reduzindo gradualmente a orquestra.

O teatro romano tinha o modelo grego, e acrescentou arcos que permitiam construir imensos teatros ao ar livre, para 15 mil pessoas.

Os romanos inventaram também o auditorium, forma típica de pequeno teatro em semi-círculo, em torno de uma orquestra semi-circular menor. O palco era coberto e um toldo protegia o público.

A Fé Católica inspirou os dramas litúrgicos, que por volta do séc. X eram representados dentro das igrejas. Depois ganharam as praças e no séc. XIII aí eram freqüentes as encenações.

Ergueram-se mansões para representar os diferentes locais em que se desenrolava a ação seguida pelos espectadores, que se deslocavam de uma para outra.

Palcos móveis apareceram, dando origem a companhias itinerantes que iam pelas cidades em carretas cobertas tornadas espaços cênicos.

No Renascimento a cena se distanciou, fechou-se em três lados, painéis pintados davam a ilusão de realidade no palco.

A platéia lentamente separou-se em classes sociais, com espaços diferentes para cada nívei.

O teatro contemporâneo afasta as limitações formais dos espaços existentes e busca lugares menos previsíveis.

Volta-se à praça e rua, ou a espaços modulados com estilos diversos, e a disposição de cena e platéia vêm das ações dos atores.

O Pessoal do Teatro

Pela complexidade da produção, o teatro é sempre um trabalho de equipe, dividida em funções administrativas, artísticas e técnicas.

O pessoal administrativo inclui o produtor, os funcionários do teatro, a publicidade, a bilheteria.

O pessoal artístico compreende o autor, o diretor, os cenógrafos, os figurinistas, o iluminador, o elenco de atores e se for o caso um compositor, um libretista, um coreógrafo e um diretor musical.

O pessoal técnico agrupa o diretor de cena, os cenotécnicos e todos os responsáveis pela montagem e operação dos equipamentos utilizados.

O produtor é o responsável por toda a parte administrativa: captação e discriminação de verbas, contratação de pessoal (quando não se trata de companhia ou grupo permanente), supervisão de todos os aspectos da produção.

Como principal responsável pela produção cabe-lhe quase sempre a escolha do texto ou autor, a busca de financiamentos, o aluguel do teatro, a contratação de pessoal técnico e artístico, a supervisão da publicidade, a venda de espetáculos e todos os demais aspectos financeiros da produção.

É também o produtor que prepara as tournés , cede os direitos para cinema e televisão. Pode contratar um produtor executivo, que cuida de cada ítem da montagem, compra material para cenários e figurinos, supervisiona a execução, aimpressão de cartazes e programas, etc.

As produções que trabalham com bilheteria têm um gerente ou administrador para controle da venda de bilhetes, elaboração dos borderô, pagamento de pessoal e de direitos autorais.

O diretor toma todas as decisões criativas ou artísticas.

É o responsável pela unidade, beleza e critério geral da encenação. Seleciona e distribui os papéis no elenco, realiza ensaios, supervisiona as apresentações.

Também harmoniza cenários, figurinos, iluminação e som e todo o movimento da cena, ritmo e seus efeitos visuais.

Cenografia

O cenógrafo cria os cenários e muitas vezes os figurinos e a iluminação. O cenário organiza o espaço teatral da cena, e pode ser realista, abstrato ou feito de sugestões que agucem a imaginação do espectador.

Um cenário realista cria a ilusão de um local específico. No séc. XIX, auge do naturalismo, os diretores construiam cenários e objetos de cena para envolver o público com a ilusão de um episódio ou ação real.

Sérvio, famoso e influente autor do Segundo Livro de Arquitetura, trouxe modificações duradouras.

Entre elas, propunha três tipos de perspectiva cênica: a trágica, a cômica e a satírica.

O cenário abstrato, que teve o maior êxito no início do século passado, recebeu decisiva influência de Adolphe Appia e Gordon Craig.

Não apresenta um local ou momento: apenas os sugere com detalhes como escadas, plataformas, cortinas, painéis, rampas e outros elementos capazes de dar ênfase à linguagem e estimular a imaginação.

Nele os figurinos e a iluminação passam a ter destaque especial.

Direção Cênica

Trata da concepção geral do espetáculo, o estilo de interpretação, as marcações, a iluminação, os figurinos, a música, a ambientação e a cenografia. Desde o antigo teatro grego, com um mínimo de cenários e ao ar livre, às elaboradas encenações modernas, o teatro incorpora as possibilidades técnicas de cada época.

Rafael, Leonardo da Vinci e Giorgio Vasari criaram cenários e figurinos, e Baldassare Peruzzi, um dos primeiros profissionais especializados surgidos no séc. XVI, tornou-se famoso por seus cenários em perspectiva.

O arquiteto italiano Aleotti planejou uma estrutura de cenário que se manteve até os tempos modernos. Inigo Jones, que recebeu grande influência de Andrea Palladio, utilizaria todo o repertório de efeitos cênicos conhecidos até o momento: cenários que deslizavam sobre trilhos, máquinas voadoras e cenários giratórios; e Giacomo Torelli foi o primeiro a empregar recursos mecânicos para a troca de cenário.

Em fins do séc. XVIII foram instaladas torres sobre o cenário, de onde se podia controlar a subida e descida de telões com cordas e roldanas.

O primeiro passo para a mecanização do cenário se deu na Alemanha, com a introdução de cenários giratórios, solos deslizantes e um céu de ciclorama iluminado por luz elétrica.

A partir do momento em que Sergei Diaghilev contratou pintores modernos para seus Balés Russos, os cenários entraram em fase de grande experimentação no desenho. Foi nos Estados Unidos que todas essas tendências se sintetizaram, nas décadas de 1920 e 1930.

Depois da II Guerra os cenários do Berliner Ensemble tiveram efeito revolucionário entre os cenógrafos de todo o mundo, por sua simplicidade e plasticidade cromática, mas a tradição romântica permaneceu na ópera italiana, com o trabalho de Salvatore Fiume, Nicola Benois e Franco Zefirelli.

"Teatro de Arena, uma Estética de Resistência"

Izaías Almada escreveu o livro Teatro de Arena: uma Estética de Resistência.

São lembranças e opiniões de ex-integrantes do Teatro de Arena paulista e de pessoas a ele ligadas de alguma forma.

Izaías foi ator lá entre 64 e 69 e incluiu no livro entrevistas e reflexões no cotidiano do grupo.

O Arena surgiu a partir das atividades do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e da Escola de Arte Dramática (EAD), da Universidade de S. Paulo.

O crítico teatral Décio de Almeida Prado recorda o surgimento do Teatro de Arena, como era a cena cultural com o TBC e com a criação da EAD, onde foi professor do então aluno José Renato, um dos criadores do Arena.

Essa forma de teatro apresentou-se, no inicio, como uma maneira barata de encenar, já que com o palco em forma de arena não era preciso gastar com grandes cenários. Eram valorizados, nesse caso, os figurinos e a interpretação.

Com a encenação de “Eles não usam Black-tie” (58), a ideologia dos integrantes estabeleceram o hoje chamado teatro “revolucionário”.

A nova forma de teatro, voltada para a realidade do país, e a nova estética chamaram a atenção: personagens como empregadas domésticas e operários em greve antes não apareciam nos palcos. O Arena valorizou textos de conteúdo social de autores nacionais.

Vera Gertel, casada com Vianinha e ligada à Juventude Comunista, conta como era ser atriz, mulher e militante nessa sociedade.

As entrevistas mostram que o Arena não foi fruto de plano de uma pessoa. Se construiu e se modificou com o passar do tempo e acompanhou o cenário nacional e mundial. Atores e dramaturgos fizeram a criação.

“O Teatro de Arena atravessou 20 anos da história do Brasil e era natural que nesse período buscasse a cada momento orientar-se estética e politicamente de acordo com os ideais dos seus principais integrantes, homens e mulheres de esquerda, de origem pequeno-burguesa, alguns dos quais ligados ao Partido Comunista Brasileiro”, revela um trecho.

Augusto Boal cuidava da formação dos atores.
Ele idealizou os Seminários de Dramaturgia para uma ampla discussão do papel do teatro e do ator. Segundo Roberto Freire, Boal expunha conceitos e conhecimento sobre teatro, inspirado em curso de dramaturgia feito nos Estados Unidos com John Gassner.

O Arena foi críticado por seu modo de enxergar a realidade. Muitos, até hoje, acusam que foi um grupo fechado, limitado pelas próprias ideologias, que dividia o mundo entre “bons” e “maus”.

Histórias engraçadas ilustram o livro. O palco no formato de Arena dava intimidade com o público, que diversas vezes interferia com comentários ou invadindo a cena.

Era natural que o Arena desaparecesse durante a ditadura, mas não sem luta. O Arena deu vida aos musicais Zumbi e Tiradentes e ao show Opinião, no Rio de Janeiro. Montou espetáculos como O inspetor geral (Gogol), Arena canta Bahia e a Primeira Feira Paulista de Opinião.

Após 68, membros do Arena foram presos e torturados e mesmo assim os trabalhos continuaram. A Primeira Feira Paulista de Opinião, por exemplo, reuniu artistas de várias áreas para protestar contra a censura e a falta de liberdade de expressão.

Augusto Boal foi preso e torturado e as sequelas ficaram por toda a sua vida. Gianfrancesco Guarnieri diz que a censura mobilizou a classe teatral. Com o fim do Arena, os integrantes se dispersaram ou criaram outros grupos.

José Celso Martinez Corrêa

Fundou e dirigiu o Teatro Oficina, movimento cultural de vanguarda dos anos 60 e 70 no Brasil.

Criado em 1958 por um grupo de estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP), em São Paulo, o Oficina alcançou grande êxito de público e crítica com montagens como Quatro num Quarto, de Valentin Kataiev, e Andorra, de Max Frisch, dirigidas por José Celso e por Carlos Queiroz Telles.

Em 1967, com a montagem de O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, José Celso desenvolveu o espetáculo-manifesto, tendo sido interditado pela ditadura militar.

Na década de 70 o Oficina montou textos de Bertold Brecht, com destaque para o espetáculo Ascenção e Queda de Mahagony".

Na década de 90, o Oficina voltou a atuar em São Paulo sob o comando de José Celso, procurando manter a linha dionisíaca de espetáculo, com peças como As Bacantes e Ela.

Gianfrancesco Guarnieri

Nasceu em Milão, Itália.
Começou ligado ao Teatro de Arena de São Paulo, participando, como autor e ator, do trabalho de pesquisa de uma dramaturgia de temática popular e brasileira.

Escreveu, nesta linha, Eles não usam black-tie (1958 - também levado ao cinema), A Semente, Gimba, O filho de Cão, além da série Arena conta Zumbi (1965), Arena conta Bahia e Arena conta Tiradentes (1968), em parceria com Augusto Boal.

Para contornar a rígida censura da época da ditadura militar, escreveu Botequim (1973) e Um Grito Parado no Ar (1975).

Augusto Boal

Dramaturgo, diretor e teórico teatral brasileiro.

Famoso por seu trabalho como estimulador de uma concepção marxista da função teatral, com vivo interesse pela problemática latino-americana.

Sua obra O Teatro do Oprimido (1975) constitui um verdadeiro modelo para o teatro latino-americano de caráter político.

Oduvaldo Viana Filho

Vianinha um dos maiores teatrólogos de sua geração e do teatro brasileiro.
Morreu aos 38 anos de câncer e no leito ditou para a mãe os diálogos finais de Rasga Coração, um de seus maiores sucessos.

Foi considerado também um renovador da TV criando o programa
A Grande Família.

Sua trajetória é parecida com a de Gianfrancesco Guarnieri: Teatro Paulista de Estudantes (55) e Teatro de Arena. No Rio foi um dos fundadores do Centro Popular de Cultura, o CPC da UNE, no início da década de 60.

Plínio Marcos

Dramaturgo, romancista e contista brasileiro. Natural de Santos, São Paulo. Sua linguagem reproduz as palavras obscenas dos personagens: prostitutas, gigolôs, homossexuais, ladrões e indivíduos marginalizados.

Seus enredos apresentam situações de violência física e verbal:"[…]duvido que gente de verdade viva assim, um aporrinhando o outro, um se servindo do outro. isso não pode ser coisa direita, isso é uma bosta!".

Durante o regime militar, teve todas as peças censuradas. Escreveu Dois Perdidos numa Noite Suja (66), A Navalha na Carne (68), Prisioneiro de uma Canção (84), A Dança Final (94), O Enterro do Anão do Caralho Grande (96).

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